terça-feira, 30 de abril de 2013

Carta de um tempo que anda junto

(...)Meu velho.Pois que aí está o tempo, à correr novamente, à escorrer por entre os dedos.E tu estarás distante, distante demais.Mas não externo.O banal me abraça, acolho-o, até ficar apressado a lhe refletir...Então soltas alguma piada. O tempo se esvai, rápido. Da pressa de um diálogo à eternidade. Velho homem, entregue para as incertezas da vida que brota.

De alguém especial, para um velho homem.

                                                            


         - Em 29/09/2011


@LaryGD

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Junji Ito, um caso especial - Links para leitura, e Crítica

    O fantástico criador de mangás japonês, autor de Uzumaki, e Gyo; consagrado pela obra Tomie, é simplesmente o único no ramo de terror, que trabalha com a trama psicológica em detrimento da física.
Se você já assistiu Centopéia Humana e O Albergue, se fascinou com a forma viajada de tortura. É mais ou menos esse o propósito de Ito.
    Eis que quando usei a palavra ''fantástico'' eu também me referia à fantasia. Junji consegue inserir criaturas grotescas e inimagináveis, que se afastam do padrão ''anime'' e dos posers ''espíritos que dão susto''. Sua ideia não é dar susto, é manter o susto. Ele usa de técnicas bem voltada para a psicanálise, e tende com isso a desencadear no leitor uma sequência de ideias subentedidas nas tramas, com mais imagens e menos detalhes.
    Ito assusta qualquer um que folheia o mangá e diz '' mas que sem nexo'', ou ''que monstros ultrapassados e toscos''. Ele não atrai seus leitores, e não vai até eles. Os leitores que normalmente já vão em busca do consagrado nome.
    Este não usa de capas temorosas e cheias de efeitos especiais, ele não tem nenhuma boa sinopse no verso do mangá, e nenhum título chamativo. Normalmente usa tmono-títulos, aos moldes de Kafka e Sartre. Assim deixa suas histórias sempre em aberto, e sugere-se apenas um tema.
     O criador também tem finais intrigantes, que dão sempre a impressão de interminado. Recorda-me muito O Processo de Kafka, e seus pertubados passeios pelso porões da lei. A ideia de uma história contínua recorda também Allan Poe, com um mistério confuso... E o mais curioso, sem perder o foco!

Quando acredito que O espiral(Uzumaki) desapareceu da história, ali está ele, escondido nas entrelinhas, nos detalhes que a maioria não vê.



Links para leitura:(Português)
http://centraldemangas.com.br/online/Uzumaki/001  (Uzumaki,A espiral do Horror)
http://centraldemangas.com.br/online/Uzumaki/001 (Gyo)
http://centraldemangas.com.br/online/Tomie/001#1 (Tomie)
http://centraldemangas.com.br/online/Hellstar%20Remina/001#1 (Hellstar, Remina)

OVA(Original Vídeo Ufotable) -Vídeo do Filme Gyo, completo
http://www.youtube.com/watch?v=UZEZnPaKyCk

Adicional: Mimi do Kaidan
http://centraldemangas.com.br/online/Mimi%20no%20Kaidan/001#1

Crítica e Análise(Hellstar,Remina)
http://www.boanoiteatodos.com.br/2013/01/hellstar-remina-um-planeta-vivo.html#more

É uma leitura mágica, e aconchegante como ler Dostoiévski, porém é serviços para leitores curiosos e dispostos... Não é para qualquer amador.

@LaryGD

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O vaso


"Tinha sete anos. Estava em Pithiviers, na casa de tio Jules, o dentista, sozinho na sala de espera, e brincava de não se deixar existir. Era preciso não tentar não se engolir, como quando a gente conserva sobre a língua um líquido demasiado frio, evitando o pequeno movimento da deglutição que o faria escorrer para a garganta. Conseguira esvaziar completamente a cabeça. Mas esse vazio ainda tinha um gosto. Era um dia de tolices. Vegetava num calor provinciano que cheirava a mosca e eis que tinha pegado uma e lhe arrancara as asas. Verificara que a cabeça se assemelhava a uma cabeça de fósforo, fora buscar a caixa na cozinha e esfregara nela a mosca para ver se acendia. Tudo isso com grande displicência: era uma pífia comédia de vagabundo e ele não conseguia interessar-se por si próprio, sabia muito bem que a mosca não acenderia. Sobre a mesa havia revistas rasgadas e um belo vaso chinês, verde e cinza, com alças como garras de papagaio. O tio lhe dissera que o vaso tinha três mil anos. Mathieu aproximara-se do vaso com as mãos para trás e contemplara-o com inquietude. Era apavorante ser uma bolinha de miolo de pão neste velho mundo ressequido, diante de um vaso impassível de três mil anos. Voltara-lhe as costas e pusera-se a brincar de vesgo e a fungar na frente do espelho sem chegar a distrair-se. E, de repente, ele retornara à mesa, erguera o vaso, que era pesadíssimo, e o jogara no chão. Isso lhe acontecera sem mais aquela e logo depois ele se sentia leve, diáfano. Olhava os cacos de porcelana, maravilhado. Algo acabara de ocorrer com aquele vaso de três mil anos entre os quinquagenários, na luminosidade do verão, algo totalmente irreverente, que se assemelhava a uma manhã. Pensara: 'Eu fiz isso', e se sentiu orgulhoso, livre, sem peias; sem família, sem origem, um pequeno broto obstinado que rompera a crosta terrestre"

Jean-Paul Sartre
pg. 64, A Idade da Razão.